27/06/2016 Número de cidades em estado de emergência cresce 35%

Número de cidades em estado de emergência cresce 35%

Enchente em Alagoas em 2017. Foto: Correio dos Municípios.

Primeiro semestre registrou 1.311 municípios em situações climáticas críticas, com impacto negativo na qualidade de vida da população; saiba por que a mudança do clima pode ser uma das causas

 

O número de municípios brasileiros que decretaram situação de emergência por eventos climáticos extremos cresceu 35% no primeiro semestre de 2017 em comparação com o mesmo período do ano anterior. De acordo com dados do Ministério da Integração Nacional, 973 municípios brasileiros estavam em estado de emergência no primeiro semestre de 2016. Este ano, já são 1.311.

 

Municípios em situação de emergência são aqueles que enfrentam desastres de grande porte e necessitam de ajuda do governo estadual ou federal para se restabelecer, seja no socorro, na assistência ou no retorno de serviços essenciais. O reconhecimento federal da situação de emergência do município agiliza a liberação de verbas para o socorro. Ele é válido por 180 dias contados a partir da publicação da portaria no Diário Oficial da União.

 

Os três Estados mais afetados este ano pelo clima são nordestinos e o principal problema é a seca. A Paraíba é o Estado brasileiro com o maior número de cidades em situação de emergência do país: 196 de seus 223 municípios. Na segunda posição está Pernambuco, que pediu ajuda ao governo federal para 127 de seus municípios. O Ceará está em terceiro, com 110 municípios em situação de emergência devido às secas.

 

Na mesma região, no fim do primeiro semestre, as chuvas caíram além do esperado. O mês de maio foi o mais chuvoso dos últimos anos em Alagoas. Mais de mil famílias tiveram de deixar as suas casas no mês passado devido aos deslizamentos de terras e alagamentos. Apenas na capital, Maceió, 212 famílias ficaram desabrigadas e 650 desalojadas por causa das chuvas.

 

O Nordeste é historicamente vulnerável a extremos de seca e chuva. Segundo o estudo Valorando Tempestades, realizado por economistas da UFRJ e publicado em 2015 pelo Observatório do Clima e pelo site O Eco, a região teve a segunda maior perda monetária com desastres naturais do país entre 2002 e 2012: 1,51% do PIB, atrás apenas da região Norte, com 1,61%.

 

O Sul do país também sofre com as enchentes. O rio Itajaí-Açu transbordou no outono, colocando os municípios da região da serra catarinense em estado de alerta. Somente em Blumenau, 29 ocorrências foram registradas em um único dia segundo a Defesa Civil. No Rio Grande do Sul os estragos causados pela chuva nos últimos dois meses podem chegar a R$ 15 milhões em três cidades: Caxias do Sul, Guaporé e Veranópolis. A cidade de São Francisco de Paula (RS), na Serra Gaúcha, viveu uma situação inédita em março deste ano: foi atingida por um tornado que deixou mais de 1.600 pessoas desabrigadas.

 

No Rio de Janeiro, na semana passada, uma chuva extrema concentrada em poucas horas causou alagamentos, caos no trânsito e fechamento do aeroporto Santos Dumont. Não houve vítimas.

 

Eventos extremos de estiagem e chuva têm sido cada vez mais frequentes no Brasil, segundo o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, elaborado pela Universidade Federal de Santa Catarina. De acordo com o relatório, quase metade da população brasileira já foi afetada por eventos climáticos extremos desde a década de 1990. O número de registros cresceu 40% apenas nos últimos dez anos, em comparação às décadas anteriores. Os danos materiais assustam: R$ 45 bilhões, considerando infraestrutura e habitações entre os anos de 1995 e 2014.

 

A mudança do clima pode estar envolvida no aumento do número de desastres reportados, além da urbanização descontrolada e do crescimento populacional. O país esquentou em média 1oC nos últimos 50 anos, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia. No futuro, ela pode transformar o Semiárido brasileiro em uma região muito seca e aumentar a intensidade e a frequência de tempestades e inundações em cidades litorâneas, segundo o relatório Impacto, Vulnerabilidade e Adaptação das Cidades Costeiras Brasileiras às Mudanças Climáticas, do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). A redistribuição das chuvas é um dos fenômenos decorrentes das transformações climáticas geradas pelo aquecimento global. Locais que registravam poucas chuvas podem simplesmente secar. Do mesmo modo, regiões com altos índices pluviométricos podem registrar enchentes frequentes.

 

Os eventos climáticos extremos se somam ao problema antigo da falta de estrutura das cidades. O resultado disso tudo? Populações carentes castigadas pelas secas e pelos alagamentos. Segundo estudo do Banco Mundial, eventos climáticos extremos levam para a linha da pobreza 26 milhões de pessoas todos os anos, provocando perdas anuais de US$ 520 bilhões. Ao mesmo tempo, dão força a um movimento migratório que deve se acentuar nos próximos anos.

 

“As condições climáticas são um fator altamente importante para milhões de brasileiros em situações mais vulneráveis e podem diminuir drasticamente a qualidade de vida da população, especialmente dos menos favorecidos”, disse Suzana Kahn, presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC).

 

Uma série de medidas de precaução e planos de resiliência podem minimizar os efeitos das mudanças climáticas. Sistemas de alerta, de abastecimento de água e de vazão em caso de enchentes ajudam a preservar os serviços básicos em períodos críticos.

 

De acordo com Marcelo Seluchi, coordenador de Operações e Modelagens do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, o Cemaden, é importante que se tenha um monitoramento ambiental sistemático e de longo prazo. “Alguns locais precisam de medidas de adaptação e temos de nos antecipar aos efeitos negativos da variação do clima, que podem cada vez mais, colocar vidas em risco”, afirma.

Fonte: Luciana Vicária – Observatório do Clima.




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