Estado desafia argumento do governo Trump de que corte de CO2 pode afetar crescimento econômico dos EUA
Desde o último sábado (31), o governador da Califórnia, Jerry Brown, tem em sua mesa, aguardando assinatura, um projeto de lei que põe o estado americano numa posição de dianteira na política de clima. O documento estabelece que, até 2045, toda a eletricidade em terras californianas saia de fontes limpas de geração, com emissão de carbono zero.
A lei, que já é de longe a mais ambiciosa da história dos EUA para o clima, indica ainda uma meta intermediária — estabelece que 60% da energia do estado saia de fontes limpas até 2030.
O projeto, que analistas esperam ser sancionado pelo governador democrata, amplia a divisão política entre a California e o governo federal. A administração Trump foi aquela que tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, que consolidou objetivos globais na redução das emissões de gases do efeito estufa.
Trump ancorou sua decisão unilateral no argumento de que reduções de emissões podem prejudicar a economia do país. A nova política californiana de clima, agora, será essencial para mostrar que é possível adotar uma meta climática ousado sem afetar o crescimento econômico. Pelo contrário, a ideia é que ao ancorar sua política de emissões na lei, o estado use isso para crescer ainda mais.
A Califórnia tem hoje um PIB de US$ 2,7 trilhão e, se fosse um país, seria a quinta maior economia do mundo (atrás apenas de EUA, China, Japão e Alemanha). A decisão de dar um rumo ambicioso para a política de clima do ali pode ajudar a calar no futuro o argumento de que uma economia muito grande não pode fazer uma transição energética rápido o suficiente para se alinhar à meta de impedir que o planeta aqueça mais de 2°C.
Futuro brilhante
A aprovação do projeto de lei, identificado no congresso da Califórnia pela sigla SB100, gerou muito entusiasmo no último fim de semana.
“Entregaremos à próxima geração um futuro brilhante, alimentando a Califórnia com o Sol e o calor da Terra”, declarou no domingo o senador Kevin de León, autor do projeto de lei. “O governador Brown tem sido um líder no combate à mudança climática, e agora precisamos que ele sancione a lei, assim que possível, para que a Califórnia continue a liderar o país rumo à energia renovável.”
Empolgação à parte, a lei por si só não significa que atingir a meta será fácil, mas já há um bom caminho andado. A Califórnia já tem 30% de sua matriz elétrica consolidada em fontes renováveis, como solar e eólica. E mais 25% da energia do estado sai de fontes de emissão baixa, mas que implicam outros problemas ambientais, como usinas nucleares e hidrelétricas.
Desde a assinatura do Acordo de Paris, em 2015, dezenas de estudo vem fazendo projeções sobre como a Califórnia pode acelerar sua transição. Alguns são mais pessimistas que outros, mas a maioria concorda que um avanço mais rápido no setor depende de um marco legal, que o governador Jerry Brown está prestes a consolidar.
Fonte: Observatório do Clima.