03/08/2017 Por que precisamos criar unidades de conservação de Floresta com Araucária

Por que precisamos criar unidades de conservação de Floresta com Araucária

Campos naturais e um fragmento de floresta com araucárias em Palmas, no Paraná. Foto: Zig Koch - divulgação.

A floresta foi praticamente dizimada em menos de 100 anos

 

Até a Revolução Industrial, nosso impacto sobre a biosfera era bem localizado e relativamente pequeno. Com o uso dos combustíveis fósseis, carvão, petróleo e outras formas de energia, nosso poder foi multiplicado e começamos a alterar de forma muito mais profunda e definitiva a natureza que nos cercava.

 

A Floresta com Araucária foi um dos locais onde essa transformação aconteceu de forma mais drástica e marcante. A exploração indiscriminada dos recursos naturais (sem o menor critério) proporcionou um importante ciclo econômico no Paraná e em Santa Catarina. O resultado foi a destruição de uma das florestas que concentravam a maior quantidade de metros cúbicos de madeira por área do mundo. A Floresta com Araucária – ou, tecnicamente, Floresta Ombrófila Mista (FOM) – foi praticamente dizimada em menos de 100 anos. Tinha uma diversidade impressionante, única em vários aspectos.

 

>> A araucária está ameaçada de extinção

 

Associada a ela, estão os Campos Naturais. Áreas de beleza ímpar descritas por Saint-Hilaire, botânico viajante que percorreu o Brasil estudando suas plantas em 1820. Na ocasião, ele comentou que “os Campos Gerais do Paraná eram o paraíso terrestre no Brasil”. Olhamos para a araucária hoje com admiração, porém, esquecemos que ela foi uma das centenas de espécies de árvores que compuseram a quase extinta Floresta com Araucária.

 

Meu pai é testemunha viva do que foram as florestas no Paraná. Foi piloto. Comandante Stenghel, como era conhecido na aviação. Na década de 1950, voava pelo interior do estado em aviões pequenos e recorda que, se o motor do avião parasse saindo de Curitiba, o pouso ocorreria na copa dos pinheiros ou em cima de perobas gigantescas, que predominavam a leste, a sul e ao norte. A exceção ficava nos Campos Naturais, que cobriam em torno de 13 % do território paranaense. Hoje, percorremos a mesma rota identificando apenas algumas pequenas manchas desconectadas do que foi uma formação vegetal predominante, mas que hoje luta para sobreviver em “ilhas” isoladas e altamente pressionadas pela soja e pelo plantio de espécies exóticas, como o pinus e o eucalipto.

 

Nos anos 1980 e 1990, viajei procurando áreas ainda virgens de Floresta Ombrófila Mista para registrar as riquezas daquele cenário em fotografias. Na época, já não encontrei nenhuma que estivesse, de fato, intacta.

 

Os Campos Naturais, na década de 1990, eram utilizados para pecuária e ainda mantinham sua característica original. Rapidamente, a prática deu lugar às monoculturas de soja, milho, trigo e plantações de pinus. Espécies exóticas invasoras, como o pinus, são cultivadas em áreas onde foi retirada a floresta nativa ou sobre os Campos Naturais. O problema se agrava com a dispersão de suas sementes, que provocam grande contaminação espalhando árvores exóticas por quilômetros do local de cultivo. E não há controle algum sobre essa situação.

 

A paisagem oferecida pelos Campos Naturais, que lembrava a savana africana e continha milhares de espécies nativas vivendo em relação equilibrada com o meio, foi quase absolutamente convertida. O resultado são áreas imensas sem vida natural, contaminação e assoreamento de rios, perda de solo e uma transformação da paisagem em algo monótono e homogêneo. Dessa transformação, infelizmente, sou testemunha ocular. É uma história da qual não podemos nos orgulhar. Pouco sobrou daquelas paisagens tão únicas. Esgotamos sem nenhuma inteligência as áreas naturais nativas, que, em alguns países, são fonte inesgotável de riqueza a partir da manutenção de uma cadeia produtiva e inteligente, que rende lucros significativos com o estímulo ao turismo e lazer. 

 

Devemos refletir, e muito rapidamente, sobre a questão da manutenção e recuperação das Florestas com Araucária e Campos Naturais que restaram. Pouco mais que duas gerações praticamente extinguiram essas formações vegetais. Cabe a nós assumirmos que é dever conservar o pouco que ainda existe. Estima-se que restem menos de 0,8% de Floresta com Araucária em todo o Paraná. Originalmente, 40% de seu território foi ocupado pelo ecossistema. A situação dos campos é ainda pior.

 

A manutenção, ampliação e criação de Unidades de Conservação, portanto, é algo urgente. Tão cedo, é bom lembrar, não temos como sair desta poeirinha cósmica chamada Terra, onde nascemos. E, por fim, é urgente questionar: que planeta queremos deixar para nossos descendentes?

Fonte: Zig Koch- ÉPOCA | Blog do Planeta.




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