Page 62 - Uma Breve História da Legislação Florestal Brasileira
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combater a mudança climática. Por outro lado, essa motivação mais ampla não encontrou
adesão na agenda desenvolvimentista nacional, o que levou ao equivocado argumento de que a
proteção florestal e ambiental, promovida nas décadas de 1990 e 2000, representa “empecilhos
ao desenvolvimento regional”, principalmente da Amazônia, e que seria resultado da “cobiça
internacional” e de outros interesses escusos. Tal argumento é evidente nos prolíferos projetos
de lei e nas propostas normativas que buscam mais leniência nas restrições ambientais e cujos
objetivos econômicos predatórios são irrestritamente defendidos no atual governo Bolsonaro.
Assim, além do paradoxo entre sua cientificamente explícita necessidade de implantação e
sua desconexão com relação às prioridades políticas nacionais, a conservação florestal ganhou
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uma dupla face de Jano , em que um lado busca um modelo de desenvolvimento econômico
retrógrado, superado pela ineficiência e pelas externalidades negativas da degradação das flo-
restas, e o outro avista um futuro sustentável, justo, moderno e promissor, mas ainda incapaz
de satisfazer as necessidades sociais no curto prazo.
35 Trata-se de uma metáfora com o deus da transformação Jano, que, segundo a mitologia romana, possui duas faces, uma
sempre voltada para trás, admirando aquilo que já aconteceu, nostalgicamente, e a outra, para frente, olhando o porvir, o futuro.
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