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ampla, o Campeche, no sul da Ilha, foi escolhido para receber a pista – na verdade,
uma ampla área de pasto – para pouso e decolagem dos pequenos aviões Laté 26,
que chegavam à velocidade de 150 km/h. Ali foi construído um casarão de 280 m 2
que servia como sede local da empresa e hangar para reparos, além de eventual hos-
pedagem dos pilotos, para descanso ou à espera de manutenção.
Naquela época, o Campeche era uma comunidade de pescadores que vivia isolada
do mundo. Não havia estrada até a região central da Ilha – apenas uma trilha para
carros de boi. No início, os aviadores eram vistos quase como extraterrestres, pois
desciam em máquinas voadoras brilhantes, usavam roupas estranhas e falavam de
um jeito que ninguém entendia.
Com o tempo, estabeleceu-se um convívio amistoso e surgiu até uma fonte de renda para os
nativos, decorrente da missão de levar lampiões ao alto do morro mais alto da localidade.
Tratava-se da rústica sinalização usada à época para guiar os pilotos e alertar sobre a ele-
vação existente ali. Essa é a origem do nome Morro do Lampião, que permanece até hoje.
Um dos pilotos que faziam a linha era Antoine de Saint-Exupéry – que, com menos de
30 anos, ainda não havia se tornado o escritor mundialmente famoso, autor do clás-
sico O Pequeno Príncipe, que seria lançado apenas em 1943. Nas passagens pela Ilha, Rebatizado de Casa
José Boiteux, o antigo
ocorridas entre 1929 e 1931, Saint-Exupéry teve muitos contatos com os moradores Instituto Politécnico
locais. Ele queria treinar o espanhol, pois naquele período estava se aproximando da é a atual sede da
futura mulher, a salvadorenha Consuelo, que morava na Argentina. A tradição oral, Academia Catarinense
de Letras e do Instituto
transmitida pelos moradores do Campeche daquela época, especialmente Deca Rafael,
Histórico e Geográfico
dá conta de que o aviador recebeu dos manezinhos o apelido de “Zé Perri”. de Santa Catarina
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