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HISTÓRIAS E O CAVALO SURDO
FATOS CURIOSOS “Quando converso sobre minha trajetória na JCI são comuns
as perguntas sobre as melhores lembranças da jornada.
Deixo uma aqui para exemplificar parte delas. Foi em 2006,
quando eu era vice-presidente da JCI, e fiz uma visita oficial
Algumas passagens inusitadas marcam as sete décadas à JCI Colômbia. Na ocasião, me convidaram para fazer um
de história da JCI, através da memória de quem vivenciou passeio noturno a cavalo nas montanhas de Bogotá.
esses momentos e os tem eternos na lembrança.
Gilberto Éramos cerca de 30 membros da JCI, todos empolgados.
Cherubin Eu tinha 38 anos e já andei muito a cavalo na minha in-
Presidente JCI Brasil fância, mas estava há mais de 10 anos sem fazer isso. Ao
2003
e presidente verem que eu era brasileiro, escolheram a dedo um cavalo
SEM COMBUSTÍVEL E PNEU FURADO Senado JCI Brasil bastante alto e bonito. Os três melhores cavalos tinham
2005JCI (2009) nomes que faziam alusão aos pilotos de Fórmula 1 da épo-
“A década de 70 e 80 foi marcada por alguns desafios. ca: Michael Schumacher, Juan Pablo Montoya, e o meu, o
Lembro-me da crise do petróleo, que impôs restrições no Rubinho Barrichello.
abastecimento de combustível. Os postos simplesmente
não abriam nos finais de semana, tornando mais difíceis Quando o passeio começou nos caminhos estreitos em meio
as nossas viagens para as convenções nacionais. à mata totalmente escura, tive certeza de que o cavalo, além
das qualidades citadas acima, era também surdo. Ele iniciou
Em certa ocasião, viajamos para a Convenção Nacional um galope muito violento entre as árvores, passando ao lado
Altair Savoldi em Jaguarão (RS), a 550 km de distância, e em outra, dos galhos e pedras. Eu tentava controlá-lo e nada dele me
Presidente Senado para Foz do Iguaçu (PR), a 450 km. Para superar a falta obedecer. Foram os 500 metros mais assustadores de minha
JCI (2009)
de postos de gasolina, nossa solução foi carregar galões vida de cavaleiro.
de combustível no porta-malas. Quando necessário, pa-
rávamos em algum local discreto para reabastecer. O único que sabia o caminho era o cavalo. Agarrado às
crinas do cavalo, eu rezava e pensava se voltaria para casa
Outra lembrança marcante foi uma viagem a Tapejara embalsamado ou todo quebrado. Já estava dando adeus aos
(PR), onde participaríamos da instalação do capítulo planos de continuar minha viagem oficial para Venezuela e
daquela cidade. As estradas de chão eram traiçoeiras, e Porto Rico. Na primeira parada, percebi que diversos cavalos
não foi surpresa quando um dos pneus furou. Enquan- chegavam lentamente, e eu devia estar branco de assustado.
to lutávamos para trocar o pneu, engolindo poeira dos
veículos que passavam, um senhor parou para nos aju- Praguejei contra o dono do cavalo. Nessa parada, havia um
dar. Ele era médico e presidente de uma coirmã (Lions ritual de beber uma bebida alcoólica típica colombiana cha-
ou Rotary). Sua generosidade foi além da assistência mada Néctar. Tomei alguns goles. Perguntei ao guia porque o
mecânica; ele nos ofereceu sua casa para tomar banho cavalo não me obedecia e ele comentou que provavelmente
e trocar de roupa. era porque meu cavalo namorava a égua dele e o guia ia
na frente acelerado... Entendi o “justo” motivo da “surdez”
Sem dúvida, a JCI é uma segunda família para mim!” do cavalo.
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