Page 42 - Trajetória Ambiental do Sul:25 anos do Prêmio Expressão de Ecologia

Personalidade Ambiental
9º prêmio expressão de
ecologia (2001)

Carlos Schneider gUardião das ÁgUas

O industrial carlos schneider sempre começou a comprar terras que contêm
foi fascinado pela natureza, e logo per- afluentes do rio Quiriri, que por sua vez
cebeu que havia uma grande ameaça. abastece o cubatão, hoje possui 9,4 mil
Por iniciativa própria, tornou-se o pro- hectares, com 60% das nascentes do rio.
tetor das nascentes do rio Quiriri com-
prando uma área de 9,4 mil hectares, TRANQUILO, óculos de leitura pendu-
transformada em reserva que ele de- rados no pescoço, ele se isola para ler
fende com a tenacidade do aço de seus e pensar no muito que ainda pode ser
produtos. o avô de carlos schneider, o feito para salvar o futuro da região. Na
comerciante Karl Friedrich schneider, verdade, schneider propõe uma atitu-
saiu de Erfurt, perto de leipzig, na atual de em relação a seu paraíso de águas
alemanha, e chegou em 1881 a Joinville, que pode se tornar básica para a dis-
onde fundou a ciser uma das maiores cussão de um novo modelo de rela-
indústrias metal-mecânica do país es- ção das comunidades brasileiras com
pecializada em porcas e parafusos. E seus recursos hídricos. combinando os
assim como quase todos os grandes atributos do preservacionista com o do
industriais de Joinville, carlos schnei- capitalista objetivo, schneider defende
der foi testemunha da transformação a concessão do direito de venda para
Ele é protetor das violenta do município, hoje um centro quem possuir a propriedade da água.

nascentes do rio urbano movimentado, onde mais de 400 Ele alega que não quer saber de lucrar
Quiriri. Comprou mil pessoas são cercadas de proble- com a água, até porque não precisa
terras, proíbe mas sociais e riscos ambientais. decidiu desse lucro. mas argumenta que ven-
proteger nascentes de rios que abas-
dendo a água ele poderia comprar mais
qualquer forma de tecem Joinville, comprando terras ao terras, mais nascentes, e preservar
devastação e busca redor delas e proibindo qualquer forma ainda mais. Por mais dignificante que

parcerias para de devastação. seja seu exemplo isolado, no modelo
ajudá-lo na missão atual não convence facilmente outros
de preservar. Transformar sem sujar ou destruir foi empresários a fazerem o mesmo só
um grande aprendizado. muito antes pelo heroísmo: isso seria mais fácil
de pensar em assumir a empresa da se eles pudessem ter concessão pa-
família, schneider já se fascinava com ra exploração correta da água — a lei
o que a natureza lhe oferecia, quando, e a fiscalização coibiriam abusos de
no entanto, já encarava a realidade da proprietários mal intencionados. Por
destruição. “cedro, pau-marfim, pero- enquanto, na falta de outro modelo ju-
ba, tudo foi destruído por 50, 60 homens rídico, schneider apela mesmo para
com machado. Era costume. Todo o nor- parcerias, a fim de poder aumentar o
te do Paraná foi destruído”, Em 1983 ele percentual de nascentes preservadas.

38