Page 39 - Livro Cooperja 50 anos
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Como tudo começou
dos quais tentavam adaptar a técnica para A soma dessas ações levaria a um aumento
as várzeas da região. gradual da produtividade do plantio de
arroz na região – e também, por conse-
O desenvolvimento da extensão rural pelo quência, à maior oferta do produto aos
governo de Santa Catarina impulsionou engenhos particulares da região, principais
esse processo. Um trabalho fortemente compradores do arroz. Tirando proveito da
baseado em tecnologia havia sido iniciado situação, os engenhos passaram a reduzir o
com a instalação do Escritório Técnico de valor ofertado. Os arrozeiros se queixavam,
Agricultura (ETA), em 1956. Seu primeiro mas se sentiam reféns. Não tinham como
diretor foi o engenheiro agrônomo Glau- secar e armazenar o produto por conta
co Olinger, nome hoje consagrado como própria, de tal forma que negar a venda
pioneiro da atividade de extensão rural no aos engenhos em busca de alternativas
território catarinense. Como o ETA tinha representaria um grande risco de prejuízo.
vigência temporária, prevista para durar Ao mesmo tempo, era cada vez mais evi-
apenas quatro anos, era preciso criar dente que os engenhos, que atuavam como
uma instituição que prosseguisse com os “atravessadores”, lucravam muito com o
serviços de extensão rural implantados. procedimento. Na safra de 1967, bastaram
Assim surgiu a Associação de Crédito e dois meses de espera para que o arroz fosse
Assistência Rural do Estado de Santa Cata- vendido por um valor três vezes superior
rina (Acaresc), atual Empresa de Pesquisa ao pago aos produtores.
Agropecuária e Extensão Rural de Santa
Catarina (Epagri). Ciente desse quadro, o engenheiro agrô-
nomo Afonso Back, responsável pelo es-
Com a orientação técnica da Acaresc, ini- critório regional da Acaresc, sediado em
ciou-se no sul de Santa Catarina um projeto Urussanga (SC), passou a disseminar uma
de sistematização de várzeas, que consistia ideia que poderia representar a solução
em aperfeiçoar as técnicas de construção ideal para os produtores: o cooperativismo.
dos tabuleiros, manejo de água e sistema Back percorreu as comunidades rurais para
de plantio, adubação do solo e controle de transmitir sua mensagem. Ele explicava que,
doenças e pragas. Outro passo fundamental unidos numa cooperativa, os agricultores
para aprimorar a produção foi a utilização teriam condições de construir armazéns
de sementes melhoradas – trazidas ini- para manter seus produtos e se libertarem
cialmente do Instituto Rio-Grandense do de intermediários. A causa contava com o
Arroz (Irga) e depois do Centro Internacio- apoio do governador Ivo Silveira, que criou
nal de Agricultura Tropical (Ciat), sediado o Fundo Estadual do Cooperativismo para
na Colômbia. reforçar o trabalho de mobilização.
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