Page 30 - A Herança Alemã de Santa Catarina
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A HerAnçA Alemã de SAntA CAtArinA
ENCoNTro DE INTErEssEs
Para entender melhor como começou a relação dos alemães com Santa Catarina, é
preciso voltar ao ano da Independência do Brasil, 1822. Uma das maiores preocu-
pações do jovem país, que não estava mais sob a tutela de Portugal, era proteger seu
território da cobiça de potenciais invasores. A região Sul mostrava-se a mais vulnerá-
vel, pois era pouco habitada e já havia sido historicamente motivo de desavenças e
disputas territoriais.
Basta lembrar da invasão espanhola de 1777 – apenas 45 anos antes, portanto. Na-
quela ocasião, dezenas de embarcações vieram da Espanha para tomar a Ilha de Santa
Catarina, atual Florianópolis, declarando-a posse espanhola dali em diante. Somente
oito meses depois, com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso entre Portugal e
Espanha, a ilha, considerada um ponto estratégico tanto comercial quanto militar,
voltou a pertencer a Portugal. Esse acordo de vizinhança amigável entre as duas po-
tências delineou as atuais fronteiras entre o Brasil, possessão portuguesa, e o restante
da América do Sul, possessão espanhola.
Diante da necessidade do Brasil recém-emancipado de povoar o Sul, uma das
ideias que logo ganhou força foi a de trazer imigrantes. Para convencer gente de
fora a se mudar para uma região tão isolada do mundo, no entanto, era preciso que
essas pessoas tivessem fortes motivações. Isso explica por que tantos alemães se
dispuseram a enfrentar essa verdadeira aventura. O momento mostrava-se propício
para que muitos cidadãos da Confederação Germânica, base da atual Alemanha
(que só seria unificada por Otto von Bismarck, em 1871), tentassem uma vida
melhor no Novo Mundo, pois estavam enfrentando sérias turbulências políticas e
dificuldades econômicas.
A Revolução Industrial mudara a lógica do sistema feudal europeu, que até então
assegurava aos camponeses a posse compartilhada das terras e o usufruto dos
bens coletivos. Em substituição a esse modelo, despontava um sistema capitalista
baseado na exploração desumana do trabalho assalariado. Para a maioria dos tra-
balhadores, não havia opção a não ser se submeter a essas condições extremas,
incluindo jornadas de até 16 horas diárias, já que o desemprego representava uma
situação ainda pior, de miséria plena. Assim, o continente que hoje é procurado
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