Page 10 - A Marcha do Grão de Ouro

Prefácio

A mArchA do grão de ouro

A epopeia da soja, iniciada há mais de cinco mil anos, na Ásia, quando era ainda uma
planta rasteira e muito diferente das cultivares modernas, até a atualidade em todo seu apogeu

nas Américas, com plantas eretas ostentando em seus ramos as vagens que protegem o grão

dourado , merece um registro digno dos heróis mitológicos. A história da planta mágica e de
desbravadores, muitos dos quais anônimos, está registrada de forma vívida e instigante nesse
memorável livro que tenho a satisfação de prefaciar.

Esta cultura milenar, com centro de origem na China, ambientada às condições de

temperaturas amenas e altas latitudes, foi introduzida no Brasil no final do século XIX. Em
2014, comemoramos 132 anos da chegada da soja no Brasil e os 100 anos do cultivo do grão
destinado para consumo humano no país. A espécie permaneceu quase esquecida por muito

tempo, consumida como forragem para bovinos ou como grão para a engorda de suínos nas

pequenas propriedades no interior do Rio Grande do Sul.
A fantástica trajetória de expansão da cultura, sem paralelo na história do país, começou
na década de 1960, na região Sul. Posteriormente introduzida na região Centro-Oeste, se

converteu na cultura líder do agronegócio brasileiro e motor da expansão da fronteira agrícola

e do desenvolvimento regional. Todo o esplendor não foi obra de milagre, mas de trabalho
árduo e diligente de visionários nas instituições de pesquisa, nas universidades, nos órgãos
de assistência técnica e no setor privado. Sem esquecer dos agricultores abnegados, que

acreditaram e investiram seu tempo, esforço e recursos na expansão da cultura.

Depois de conquistar o Sul do Brasil, a soja foi gradualmente adaptada às condições
tropicais brasileiras, rumo ao Centro-Oeste, até então uma grande área potencial para expansão
agrícola, mas pouco valorizada. Foi quando a pesquisa, aliada ao espírito empreendedor dos

agricultores, encarou o desafio e produziu cultivares adaptadas: a inédita soja tropical . Para

dar sustentação aos sistemas de produção que se expandiram no Cerrado brasileiro, também
foi necessário o desenvolvimento de tecnologias para recuperação dos solos ácidos, altamente
intemperizados e de baixa fertilidade natural.

A adaptação da soja ao ambiente tropical criou as condições e os estímulos para o

desenvolvimento de sistemas de produção cada vez mais complexos e intensivos em
conhecimentos. A pesquisa, atenta aos novos desafios, produziu cultivares mais resistentes aos
problemas fitossanitários, assim como tecnologias de produção mais avançadas e sustentáveis.

Para atender à expansão da soja, a indústria de máquinas e equipamentos também teve que se

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